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[Opinião] Açúcar: o preço que paga pela inércia

(Imagem criada por IA)
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NY teve uma semana amarga, com os preços do açúcar encerrando a 16.49 centavos de dólar por libra-peso despencando 54 pontos no acumulado da semana (equivalentes a 12 dólares por tonelada). Todos aqueles profissionais acostumados com o mercado de commodities sabem que os preços tendem a exagerar — tanto na euforia quanto no pessimismo. O que poucos esperavam era que os exportadores tailandeses demorassem tanto para fixar seus açúcares. Quando finalmente decidiram agir, já não havia contrapartes dispostas, o que pressionou violentamente as cotações, levando o mercado ao nível mais baixo desde junho de 2021, quando bateu 16.19 centavos de dólar por libra-peso.

Os fundos especulativos, que não tem emoções nem sentimentos e são movidos apenas por modelos matemáticos e algoritmos que percebem o pânico que aflige os humanos, aumentaram nesta semana (de terça a terça)em mais de 18,500 lotes o volume de vendas a descoberto e – segundo o número divulgado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, estavam vendidos 79,990 lotes com base na posição de terça-feira ada. Ou seja, não são apenas nossos amigos tailandeses que botaram o mercado para baixo. Os fundos também se divertem.

O impacto mais visível não recai sobre as usinas do Centro-Sul, que estão majoritariamente bem-posicionadas para a safra 2025/26. Estima-se que mais de 85% do açúcar destinado à exportação já tenha sido fixado a preços médios ao redor de R$ 2.600 por tonelada, o que ainda permanece sem fixação está concentrado no contrato para março/26, com mais tempo para aproveitar eventuais espasmos do mercado. E tudo leva a crer que eles virão.

A dor real está naquelas usinas que, por excesso de otimismo ou pura inércia, não realizaram nenhuma proteção de preços — apostando sabe-se lá em quê. Quem nos lê ao longo desses recém completados 18 anos de comentários semanais ininterruptos sabe da enorme importância que sempre demos à gestão de risco. Uma política de risco robusta é aquela que tira a subjetividade do processo decisório eliminando qualquer desculpa esfarrapada que eventualmente possa se ter sobre “não fixar preços quando batem 2,800 reais por tonelada”, por exemplo.

O mercado de açúcar ofereceu inúmeras oportunidades de fixação de preços altamente remuneradores. Mesmo que a empresa ainda assim julgasse que os preços poderiam melhorar havia sempre a alternativa de fixar em reais por tonelada e comprar uma call (opção de compra) com preço de exercício 200-300 pontos acima do nível de mercado no momento do hedge, para participar de eventual alta. Não fazer nada foi a pior escolha. De dezembro para cá, o preço do açúcar caiu 1,000 reais por tonelada (aplicada a correção). Não dá para culpar apenas os tailandês, os fundos ou o mercado.

Quando observamos o contrato de julho em Nova York, convertido para reais por tonelada e ajustado pelo IPCA, o valor atual gira em torno de R$ 2.127. Para dimensionar o que isso representa, basta lembrar que, nos últimos 15 anos, o mercado esteve acima desse nível em 65% do tempo. Um patamar abaixo da média histórica — e bem distante do que muitos esperavam há poucos meses.

As usinas aceleram as fixações para a safra 2026/2027. Pelo nosso modelo, até o dia 30 de abril, elas estavam fixadas um total de 6.12 milhões de toneladas de açúcar, ao preço médio de R$ 2,587 por tonelada FOB Santos, com prêmio de polarização. Isso equivale a 112.31 centavos de real por libra-peso, neste caso sem pol.

A queda na ATR e TCH vai elevar o custo de produção de açúcar no Centro-Sul. A estimativa preliminar é de que ele chegue ao equivalente a 16 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos, um salto de 33 dólares por tonelada. A conferir.

Nosso colaborador, Marcelo Moreira, observa que o contrato Julho/25 encerrou a semana cotado a 16.49 centavos de dólar por libra-peso. Ao longo do período, os preços oscilaram entre a máxima de 17.38 e a mínima de 16.32 centavos de dólar por libra-peso, partindo de um fechamento anterior de 17.05. Mesmo com a valorização expressiva do real — que chegou a negociar nas máximas do ano a 5.5600 Nova York não encontrou força para sustentar uma reação. O contrato Julho/25 permanece dentro de um canal de baixa e ainda pode testar o nível de 15.32 centavos de dólar por libra-peso. As próximas resistências técnicas estão localizadas em 16.86, 17.70 e 17.96 centavos de dólar por libra-peso. O indicador estocástico encerrou a semana em território de sobre venda, o que pode indicar a possibilidade de um repique técnico nos preços no curto prazo. A expectativa agora recai sobre o volume de entrega física no vencimento de Julho/25. Um volume inferior a 750 mil toneladas seria considerado uma entrega razoável e pode influenciar positivamente o comportamento do mercado. Destaca-se ainda que o spread Outubro/25 x Março/26 rompeu, finalmente, a resistência dos 50 pontos, encerrando a semana com 53 pontos.

Num movimento que só pode ser explicado por incompetência crônica ou má-fé deliberada, a Petrobras – sob o comando da genialidade petista – decidiu reduzir em 5.6% o preço da gasolina nas refinarias justamente quando o petróleo subia mais de 4% lá fora e o açúcar ensaiava uma recuperação em Nova York. É difícil saber o que é mais alarmante: a completa falta de sensibilidade diante do cenário global ou a insistência em decisões populistas que sabotam qualquer tentativa séria de planejamento. A sensação é que estamos sendo governados por quem ignora o básico de oferta, demanda e previsibilidade. Ou, pior ainda, por quem entende muito bem – e escolhe conscientemente o caminho da destruição de valor.

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de mercado e diretor da Archer Consulting

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