O Brasil tem potencial para se tornar um dos principais produtores mundiais de SAF (Sustainable Aviation Fuel), o combustível sustentável de aviação, de acordo com Daniel Valle, diretor de Estratégia, Novos Negócios e Inteligência de Mercado da Copersucar, em apresentação em Workshop promovido pelo Grupo de trabalho de Tributação Conexão SAF.
De acordo com Valle, o país tem um grande potencial tanto para o mercado doméstico quanto de exportação, como Estados Unidos, China e Reino Unido, que consomem anualmente cerca de 91 bilhões de litros, 59 bilhões de l e 16 bilhões de litros, respectivamente, de combustível de aviação, segundo dados da U.S. Energy Information istration (EIA), tem grande potencial de mercado. Já o Brasil está em 11º lugar, com um consumo de 9 bilhões de litros/ano.
Segundo Valle, o país já conta com a maior plataforma agregada de moagem de cana-de-açúcar do mundo, só as usinas Copersucar, por exemplo, têm capacidade de moer até 120 milhões de toneladas por safra. Além disso, o Brasil é o maior produtor global de etanol de baixo carbono. Esses dois fatores, aliados à ampla disponibilidade de biomassa e à experiência consolidada na cadeia do biocombustível, colocam o Brasil em posição privilegiada para atender à futura demanda global por SAF.
O Combustível do Futuro estabelece mandato de 1% a 10% de redução nas emissões de gases de efeito estufa no setor aéreo no Brasil até 2037, o que impulsionará a adoção do combustível sustentável no país. De acordo com a EPE,a projeção de demanda de SAF para o Brasil, fruto do mandato, em milhões de m3/ano pode chegar a 2,5 em 2037, dependendo da pegada de carbono do SAF produzido.
Os três projetos de SAF anunciados no Brasil somam capacidade de 1,6 Bilhões de litros em 2029, os demais estão sob avaliação. Valle também ressaltou a competitividade brasileira frente a outros países. Em um exemplo, ele explicou que substituir 1,7 milhões de m³ de querosene de aviação por SAF produzido no Brasil, em comparação com produção no Japão, com etanol importado do Brasil, potencialmente reduziria custos em USD 3,2 bilhões por ano, dado que o SAF produzido no Brasil emite menos CO2 do que SAF produzido no Japão, pela matriz energética renovável brasileira. Ou seja, 40% menos volume seria necessário para reduzir as mesmas emissões de carbono do mandato japonês. A rota de produção brasileira é mais eficiente tanto em custo quanto em impacto ambiental, o que dá uma vantagem clara nesse mercado emergente.
Entretanto, o executivo alertou para os desafios. Entre eles, o alto Capex necessário, e para atingir a demanda potencial, a necessidade de desenvolvimento logístico – incluindo terminais portuários e estrutura de tancagem – e a criação de um mercado com condições econômicas viáveis.
Para fomentar a indústria, dentro do contexto do Grupo de trabalho de Tributação Conexão SAF, Valle mostrou o exemplo teórico de uma Planta de ATJ (Alcohol do Jet), que produz 1 bilhão de litros de SAF por ano, com simulação de preços do SAF versus o querosene de aviação em US$/litro. Em conta técnica sobre os impactos positivos de e com redução de impostos para a produção do SAF local, Valle mostrou que uma potencial isenção de impostos sobre equipamentos para produção de SAF na aquisição e importação (importados e nacionais); a isenção de impostos na venda de SAF doméstica e na compra de etanol para produção de SAF (e qualquer outra matéria prima); e isenção de IR por 10 anos ao início da operação da planta de SAF, trariam 30% a mais de maior competitividade para o biocombustível de aviação, atuando como alavancas para indústria brasileira de SAF.
Com três grandes projetos já anunciados no país – Petrobras (Cubatão), Acelen (Mataripe) e BBF (Manaus) – o Brasil poderá alcançar uma capacidade produtiva de 1,6 bilhão de litros de SAF até 2029. “Temos tudo para sermos protagonistas na aviação verde global”, concluiu Valle.